A PASSAGEM DO MEIO - da miséria ao significado da meia-idade
- Jorge Monteiro
- 13 de jun. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2024
"Por que grande número de pessoas passa por tanta perturbação na meia-idade?
Por que consideram uma crise?
Este livro mostra como podemos percorrer conscientemente a meia idade, tornando a vida mais significativa e a segunda metade da vida imensamente mais rica."

A passagem pelo meio da vida apresenta-nos a oportunidade de reexaminar a nossa vida e perguntar: “ Quem sou eu para além da minha história e dos papéis que representei? Trata-se de ocasião para redefinir e reorientar a personalidade, um rito de passagem necessário entre a adolescência prolongada na primeira idade adulta e nosso inevitável encontro com a velhice e a mortalidade.
A Passagem do Meio
Reflexões
... “Na busca de sua alma e do sentido de sua vida, o homem descobriu novos caminhos que o levaram para a sua interioridade: o seu próprio espaço interior torna-se um lugar novo de experiência. Os viajantes destes caminhos nos revelam que somente o amor é capaz de gerar a alma, mas também o amor precisa de alma. Assim, em lugar de buscar causas, explicações psicopatológicas às nossas feridas e aos nossos sofrimentos, precisamos, em primeiro lugar, amar a nossa alma, assim como ela é. Deste modo é que poderemos reconhecer que estas feridas e estes sofrimentos nasceram de uma falta de amor. Por outro lado, revelam-nos que a alma se orienta para um centro pessoal e transpessoal, para a nossa unidade e a realização de nossa totalidade. Assim a nossa própria vida carrega em si um sentido, o de restaurar a nossa unidade primeira.” ... (Léon Bonaventure)
Precisamos recordar a vida retrospectivamente, mas devemos vivê-la para a frente. (Soren Kierkegaard, The Journals of Kierkegaard)
Se trouxeres à tona o que está dentro de ti, o que é trazido à tona te salvará. Se não trouxeres à tona o que está dentro de ti, o que não trouxeres à tona te destruirá. (Evangelho de Tomé)
Porque tantas pessoas passam por tantos abalos na meia-idade? Por que consideramos essa fase como crise? Qual o significado dessa experiência? A crise da meia-idade, que eu prefiro chamar de passagem do meio, apresenta-nos uma oportunidade de reexaminar a nossa vida e fazer a pergunta por vezes assustadora e sempre libertadora: “Quem sou eu além da minha história e dos papéis que interpretei?” Quando descobrimos que vivemos até agora algo que constitui um falso eu, que temos representado até o momento uma idade adulta provisória, impelidos por expectativas irrealistas, nós nos abrimos finalmente para a possibilidade de uma segunda idade adulta, nossa verdadeira individualidade. A passagem do meio é a ocasião de redefinirmos e reorientarmos a personalidade, um rito de passagem entre a adolescência prolongada da primeira idade adulta e o nosso inevitável encontro com a velhice e a mortalidade. Aqueles que passam conscientemente pela transição trazem mais significado à sua vida. Os que não passam permanecem prisioneiros da infância, não importa o sucesso aparente que possam ter na vida. (página 9)
Muitos de nós encaramos a vida como romance: passamos passivamente de página em página, na certeza de que o autor nos contará tudo na última. Hemingway disse certa vez que se o herói não morrer é porque o autor simplesmente não terminou a história. Por conseguinte, morremos na última página, tendo ou não atingido a iluminação. O convite da passagem do meio é que nos tornemos conscientes, que aceitemos a responsabilidade pelo resto das páginas e nos arrisquemos a enfrentar a grandeza da vida à qual fomos convidados. (página 10)
Talvez o primeiro passo necessário para que a passagem do meio seja significativa seja reconhecer a parcialidade da lente que recebemos da nossa família e da nossa cultura, e através da qual fizemos nossas escolhas e sofremos suas consequências. Se tivéssemos nascido em outra época e lugar, de pais diferentes que sustentassem valores diferentes, teríamos recebido uma lente completamente diferente. A que recebemos gerou uma vida condicional, que não representa quem somos, mas o modo como fomos condicionados a ver a vida e a fazer escolhas. (página 12)
É possível, portanto, dizer que, ao sofrer as pressões tectônicas da psique, poderemos não descobrir o supremo propósito da vida, mas estamos obrigados a descobrir o significado do conflito, o choque entre os eus ocasionado pela passagem do meio. Uma vida nova emerge desse choque predeterminado, dessa morte-renascimento. Somos convidados a recobrar a própria vida, a vivê-la mais conscientemente, a extrair da desgraça um significado. (pagina 24)
A passagem do meio é mais uma experiência psicológica do que um evento cronológico. As duas palavras gregas para “tempo”, Chronos e kairós, observam essa distinção. Chronos é um período de tempo sequencial, linear; kairós é o tempo revelado na sua dimensão profunda. Assim, para um americano, 1776 é mais do que um ano no calendário; é um evento transcendente que determina a qualidade de cada ano subsequente na história da nação. A passagem do meio ocorre quando a pessoa se vê obrigada a encarar a sua vida como algo mais do que mera sucessão linear de anos. Quanto mais ela permanece inconsciente, o que é bem fácil de acontecer em nossa cultura, mais provável é que ela encare a vida apenas como uma sucessão de momentos que conduzem a um vago objetivo, cujo propósito se tornará claro em seu devido tempo. Quando a pessoa é lançada em direção à consciência, uma dimensão vertical, kairós, intercruza o plano horizontal da vida; o intervalo de vida da pessoa é expressado numa perspectiva profunda; “Quem sou, então, e para onde estou indo?”. (página 25)
A passagem do meio tem início quando o indivíduo se vê obrigado a formular novamente a pergunta sobre o significado que percorria a imaginação da criança, mas que foi apagado com o passar dos anos. A passagem do meio começa quando a pessoa precisa enfrentar questões até então evitadas. A questão da identidade volta a estar presente e o indivíduo não pode mais fugir da sua responsabilidade diante dela. Novamente, a passagem do meio começa quando perguntamos: "Quem sou eu, além da minha história e dos papéis que representei?" (página 25)
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